segunda-feira, 11 de maio de 2009

Diversidade e Ideologia





Diversidade Humana: Uma questão política

O humano em diferentes contextos



O que é a diversidade?

Diferença, dessemelhança.
Divergência, contradição; oposição.
Caráter do que, por determinado aspecto, não se identifica com algum outro.



Por que esse tema é importante à Psicologia?

· Compreender a diversidade humana é uma questão central para a Psicologia, pois no mundo existe hoje uma multiplicidade de pessoas com costumes, valores, práticas culturais, modos de pensar e viver distintos, mas que se encontram e se relacionam permanentemente. Se nos dispomos a oferecer uma escuta de qualidade, não podemos deixar de refletir sobre as diferenças que podem constituir sua singularidade, as quais, por vezes, podem estar em franca oposição a nossa.

Quais seriam os campos da diversidade?

· Diferenças de sexo (biológicas) e de gênero (significados psicológicos e sociais atribuídos às diferenças biológicas)
· Diversidade de raça (grupo de similaridade genética que se reproduzem entre si, as categorias raciais baseiam-se em diferenças físicas) e de etnia (as categorias étnicas baseiam-se em diferenças culturais, ou seja, mesma língua, mesma religião, crenças culturais e práticas sociais)
· Diferentes tipos de religiosidade ou diferentes formas de compreender as necessidades transcendentes.
· Diferentes culturas. Cultura é a maneira como as pessoas vivem. Uma cultura fornece modos de pensar, agir e se comunicar, idéias de sobre como o mundo funciona, sobre a razão do comportamento das pessoas, crenças e ideais que moldam nossas aspirações e nossos desejos individuais. Informações sobre como utilizar e aperfeiçoar tecnologias e acima de tudo critérios para avaliar o significado dos eventos naturais, das ações humanas e da vida em si mesma.
· E tantas outras diferenças.....

Porque a diversidade é uma questão política? O que é política mesmo?

Ciência dos fenômenos referentes ao Estado,
Sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos,
Arte de bem governar os povos,
Conjunto de objetivos que enformam determinado programa de ação governamental e condicionam a sua execução,
Posição ideológica a respeito dos fins do Estado,
Atividade exercida na disputa dos cargos de governo ou no proselitismo partidário,
Habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados,
Civilidade, cortesia.

A nós vai interessar apenas alguns aspectos da “política”

As questões relacionadas à ideologia, na medida em que formam particulares formas de pensar e ver o mundo,
A civilidade, na medida em se refere à postura cidadã que devemos manter diante da diferença e assim devemos refletir sobre a cidadania e seu múltiplos significados,
Programas de ação governamental que visam garantir a preservação dos direitos dos mais distintos grupos sociais.

Como se constrói nossa maneira de pensar?

Em primeiro lugar devemos nos lembrar que aquilo que pensamos hoje é resultado de um processo de construção que se iniciou assim que chegamos ao mundo. Dessa forma, as influências de nossa família, primeiro grupo do qual fazemos parte e que “imprimem” em nós formas particulares de reagir a determinados estímulos ou situações que vivemos.
Diferentes grupos e diferentes sociedades estabelecem formas particulares de reagir diante dos mesmos estímulos, tem opiniões, valores e crenças distintas. Dessa forma temos que diferentes julgamentos, sentimentos ou reações podem surgir de uma mesma situação para diferentes pessoas.

Mas “quem” ou o “quê” determina aquilo que chegamos a valorizar como correto, bom e aceitável ou ainda errado, mau e inaceitável?

Todas as pessoas que vivem em uma determinada sociedade e em certas condições históricas estão sujeitas à ação da ideologia vigente na época.

O que é ideologia?

Um pouco de história......

A palavra ideologia foi utilizada por Karl Marx há mais de 100 anos. Marx era um pensador e militante político alemão que lutava pela causa operária. Em seus textos identificou claramente a forma como a sociedade da época estava dividida em dois grupos opostos: a burguesia e o proletariado. (MARCONDES, 1995).
Para Marx, a luta de classes acontecia porque havia uma clara distinção entre as idéias que cada um dos grupos defendia. O pensamento proletário era diferente do pensamento burguês. Para Marx, num primeiro momento, ideologia era o conjunto de idéias que cada grupo possuía. (MARCONDES, 1995).
Mas segundo Marcondes (1995) Marx e Engels, seu parceiro de lutas, estavam muito mais voltados para o problema econômico das diferenças de classes do que propriamente para a questão ideológica. Naquela época existia uma convivência de duas culturas, não havia uma mistura de idéias como apareceu mais tarde.
Em alguns trabalhos, Marx chega a admitir que a ideologia fosse uma espécie de “forma falsa” que a classe dos proprietários usava para tentar justificar suas atitudes e suas políticas antioperárias. Assim, a palavra ideologia significava uma explicação falsa dos fatos que aconteciam na luta entre as classes. (MARCONDES, 1995).
Lênin, seguidor das idéias de Marx foi quem, de fato, pôs em prática uma proposta de revolução na sociedade e a deposição dos burgueses como classe do poder social e da dominação.
Lênin sabia, claramente, que patrões e trabalhadores tinham idéias próprias. Para ele existiam duas ideologias: a dos proletários e a dos burgueses. A idéia de que a ideologia era uma forma falsa já não era aceita. (MARCONDES, 1995).
Ao longo dos anos que se seguiram à Revolução Russa em 1917, os problemas políticos e econômicos dos trabalhadores para conseguir melhores condições de vida estavam sofrendo a concorrência dos problemas de natureza ideológica, ou seja, a luta que antes acontecia na porta das fábricas, agora ocorria na cabeça das pessoas.
Os trabalhadores passaram a ter mais direitos, a poder comprar, não mais viver em condições miseráveis e a ter uma maior “integração” com a vida cultural da sociedade. As idéias de uma separação entre operariado e sociedade desaparecem. Na realidade, muitos trabalhadores começaram a se convencer que o mundo burguês poderia trazer-lhes algum benefício. (MARCONDES, 1995).



A partir dos anos 20 do século passado, ocorreu um rápido desenvolvimento do capitalismo. George Luckács, pensador húngaro, aponta o fracasso do Movimento Operário Alemão e que o operariado vivia uma situação de ambigüidade: ao lado das idéias de solidariedade, da luta pelo poder e pela revolução conviviam idéias burguesas, que reforçavam a posição individual – cada um para si, quanto mais eu tiver melhor, etc.
Evidenciava-se nesse momento que certos pensamentos burgueses se misturavam na consciência dos trabalhadores. Para Luckács, a consciência operária era um conjunto de idéias, às vezes até bem oposta à sua realidade de classe. (MARCONDES, 1995).
Marcondes (1995) afirma que para se entender “ideologia” é preciso ir mais além, avançar nas reflexões sobre o problema da relação do indivíduo com as formas de poder que ele vive e desempenha.

Compreendendo ideologia hoje.....

Para Marcondes (1965) o conceito de ideologia abarca 6 níveis, a saber:

1- A ideologia e o grupo social

A ideologia pertence sempre a um grande grupo de pessoas. Nunca a um sujeito separadamente.
Todos nós participamos de “bolsões ideológicos”, neles há pessoas que acreditam em coisas que também acreditamos, que lutam por ideais que também lutamos e têm opiniões que também são as nossas.
Ideologia não é um fato individual e não atua de forma consciente na maioria dos casos. Quando defendemos uma idéia, uma aspiração, um desejo, normalmente, não sabemos, não temos consciência que isso ocorre dentro de um esquema maior.
Nós repetimos conceitos e vontades já existentes.

2- O conteúdo simbólico

A ideologia vive fundamentalmente de símbolos. Ela trabalha com símbolos e é formada por estereótipos.
Os símbolos são mecanismos de natureza inconscientes. Eles têm a função de falar de forma indireta sobre fatos e coisas. A linguagem simbólica tem o poder de fazer com que as pessoas pensem de uma forma não-direta ou não-imediata, pois o mecanismo é inconsciente.
Os símbolos não atuam de forma isolada e a ideologia reúne uma série de símbolos e os organiza de maneira coerente. Quando as pessoas planejam o futuro ou certo tipo de sociedade, quando aspiram determinados bens materiais, dão forma à ideologia por meio desse conjunto de símbolos.
As transformações sofridas pelas idéias sobre o casamento e a sexualidade são bons exemplos de como a ideologia vai formando os bolsões de pensamento ao longo da história.
A ideologia se manifesta na forma de estereótipos que por sua vez são os criadores dos preconceitos. Os estereótipos são idéias, imagens e concepções a respeito das pessoas, objetos e fatos, os quais as pessoas criam, aprendem ou simplesmente repetem sem avaliar e são ou não verdadeiros – são vícios de raciocínio. (MARCONDES, P.25).
Os preconceitos são problemáticos, pois impõe uma idéia de uma pessoa que está diante de nós sem que a conheçamos. Os preconceitos produzem racismo, segregações, discriminações.

3- A ideologia como um conjunto de valores

Valor é alguma coisa que a pessoa preza ou ainda que tem grande consideração.
As pessoas valorizam diferentes aspectos do real, alguns a estabilidade financeira, outro o carro do ano, a viagem ao exterior, casar-se virgem, ter boa saúde, etc.
A ideologia agrupa valores assim como agrupa símbolos.

4- A ideologia como visão de mundo

A ideologia é uma forma de ver o mundo. Diferentes pessoas têm diferentes visões de mundo.
Visão de mundo implica uma determinada forma de me relacionar com o mundo real que me cerca, ou seja, com as pessoas, com os objetos e com a natureza.
A ideologia favorece minha relação com o mundo que me cerca, com as pessoas e com a natureza numa direção ou outra. Por mais indiferente que uma pessoa seja ou pretenda ser, sua ideologia sempre vai implicar numa participação onde ela estará pró ou contra os fatos, acontecimentos, opiniões no meio em que vive.

5- Ideologia mobilizadora

A ideologia possui uma grande capacidade de mobilizar as pessoas e as massas.
Ideologia não é só um conjunto de idéias, mas é também uma força que impulsiona as pessoas. É uma energia ou élan que torna as pessoas ativas na política, na religião, enfim em todas as atividades.

6- Ideologia e Ação

A ideologia pode mostra-se como progressista, avançada ou revolucionária, não pelas declarações, pela ostentação, pelo que o sujeito fala, mas, de fato só é tudo isso pela prática, pela ação do sujeito.
Alguns partidos políticos proclamam as mudanças que vão fazer enquanto concorrem às eleições, afirmam-se democratas e quando chegam ao poder agem de modo autoritário e contrário ao que prometeram.
Uma ideologia ou uma posição ideológica será progressista, inovadora ou revolucionária na medida em que sua ação for também dessa natureza.

Onde observamos a presença da ideologia?

Muitos de nós vemos no trabalho a forma de ascensão social. Trabalhar, ter dinheiro para acessar bens de consumo. A idéia de que trabalhamos para “melhorar de vida” ainda está presente em muitos “bolsões” da sociedade. Vários são os representantes sociais da ostentação que o fetiche do dinheiro pode produzir – ele dá a ilusão que as pessoas podem possuir coisas fantásticas, obter coisas fabulosas – como, por exemplo, o último modelo de celular, o tênis da marca X, a roupa da loja Y. Dessa forma a moda é um outro campo de observação da ação da ideologia.
Na ciência também podemos observar a presença da ideologia. Por exemplo, no final do século XIX e início do XX, era comum no pensamento científico, que existiam diferentes tipos humanos, ou raças mais dotadas ou viáveis e outras que estariam fadadas à degenerescência. Muitas ações políticas como a que foi levada praticada no Brasil nos anos 30 – o Eugenismo – tinham como base os fundamentos científicos de Francis Galton.
Na arte a ideologia também está presente definindo ao longo dos séculos quais os padrões estéticos a serem seguidos. A música também veicula valores ideológicos e isso talvez tenha ficado mais evidente no surgimento do rock and roll nos anos 50 nos EUA e do rap – rhythm and poetry – nos anos 70 na Jamaica, expressões musicais que acompanham transformações sociais marcantes.

Podemos viver sem ideologia?

Segundo Marcondes (1985) nunca poderemos viver sem ideologia (s). Nunca conseguiremos ver o mundo como ele realmente é. Sempre estaremos vendo o mundo a partir de uma orientação mais ou menos viciada da realidade. Negar isso seria abrir mão da condição humana. A ideologia é, inevitavelmente, resultado do processo de socialização.


Referência:


MARCONDES FILHO, C. O que todo cidadão precisa saber sobre ideologia. São Paulo: Global, 1985.

8 comentários:

PATTY - Curso Téc. em Seg. Priv. e Patrim - MANHÂ disse...

O COMPORTAMENTO HUMANO, SEUS SENTIMENTOS, SUA DIVERSIDADE, É ALGO MÁGICO, QUANTO MAIS APRENDO SOBRE ESSE ASSUNTO DESCUBRO QUE MENOS SEI !!!! È MUITO COMPLEXO CONSEGUIR DESVENADR OS MISTÉRIOS QUE EXISTEM POR TRÁS DA MENTE HUMANA, POIS CADA QUAL CARREGA EM SUA PERSONALIDADE TRAÇOS INDIVIDUAIS QUE NÃO CONHECEMOS, É INCRÍVEL COMO PEQUENOS DETALHES PODEM MUDAR COMPLETAMENTE OS RUMOS DE NOSSAS VIDAS. PORTANTO TEMOS QUE RESPEITAR O MODO DE SER E AGIR DE CADA UM EM INDIVIDUAL. A CADA DIA APRENDO CONTIGO COMO É IMPORTANTE ANALISAR CADA UM EM SUAS PARTICULARIDADES, E NUNCA FAZER UM JULGAMENTO PRECIPITADO DE QUEM QUER QUE SEJA, OU SEJA QUAL FOR A SITUAÇÃO.

Unknown disse...

Podemos viver sem ideologia?
É realmente não conseguimos...
Professora sou muito voluvel quanto a minha ideologia, não que eu seja indeciso, porém a última coisa em que me apego é a ideologia de algo específico. O munda gira muito rápido e as coisas tem mudado a velocidade da nossa tecnologia e quando percebo minha ideologia já foi suprimida ou atropelada por vários fatores, ai percebo o quanto tenho sido desleixado a esse respeito.
Se talvez fosse o único nesta condição as coisas estariam melhor, mas vejo que ainda mesmo distraído a isso vejo a minha falta de atenção, e as outras pessoas que nem isso percebem.

Até mais Professora.

Unknown disse...

Professora, olhei todas as pinturas do Yerka, o cara é bom e que creatividade.
O entusiasmo dele é baseado em alguma idologia? É possivel identficá-la?

Crespo

Profª Dra. Rosalice Lopes disse...

Patty,

Muito bons seus comentários. De fato, quanto mais nos detemos a observar a vida e as pessoas, mais descobrimos sobre elas e sobre nós mesmos.
A mente humana é uma caixinha de surpresas diante da qual devemos nos deter com paciência, cautela, mas muita admiração.
Até!

Profª Dra. Rosalice Lopes disse...

Marcelo,

Bem, seus ocmentários são inquietantes...
Qual é de fato a nossa maior responsabilidade? Refletirmos, observarmos e atualizarmos nossa maneira de pensar. Em alguns momentos podemos partilhar com algumas poucas pessoas. De fato, como você mesmo falou, a maior parte das pessoas estão absorvidas pela correria do cotidiano e nem param para refletir sobre o quê pensam e como pensam. Felizes daqueles que podem dar atenção a si mesmos e não deixam a vida passar simplesmente, como se fossem máquinas.
Que bom que você ainda se angustia com isso.
Até!

Profª Dra. Rosalice Lopes disse...

Marcelo,

O Yerka é um artista europeu. Pra dizer a verdade sei lá qual é a ideologioa dele! Ele deve mesmo ter algo na cabeça, ou seja, sugere que vê o mundo em diferentes formas e combinações, mas acho que seria um "pulo" grande depreendermos qual seria a sua ideologia....
E é mesmo muto criativo e isso você percebeu bem.
Até!

Alessandro Rampasso disse...

No que concerne aos rumos intelectuais dos objetos de interesse para o estudo e construções teóricas atuais da Etnologia Social, o egocentrismo; a fragmentação; a alta especialização técnica e a dificuldade de se articular níveis distintos de relações qualitativas e quantitativas entre os fenômenos, no modo globalizado hegemônico de pensar, são os problemas mais enfatizados nos dia atuais, conhecer a diversidade humana é acima de tudo, saber aceitar que somos apenas uma peça desse enorme quebra-cabeça chamado vida, nossos conhecimentos não estão concretizados naquilo que pensamos e sim na maneira como as pessoas reagem aos nossos pensamentos.
Parabéns pelo seu texto ele exprime muito esse pensamento, estou aprendendo a ser seu fã e admirador. Um grande abraço

Profª Dra. Rosalice Lopes disse...

Alessandro,

Agradeço os comentários, de fato, o mais difícil nete mundo é convivermos e aceitarmos as diferenças.

bjk